sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

NOSSA GENTE NOSSA HISTÓRIA

     Um cidadão, humilde, negro, quase mudo e com uma certa deficência mental, porém conhecidíssimo em toda aquela Sta. Izabel dos anos 50.Era o velho Lino, (meu homônimo),que ganhava a vida fazendo biscaites, isto é,capinando quintais, carregando latas d`água para pequenos restaurantes do antigo mercadão, quando retirava o precioso líquido do Igarapé Sta. Izabel (ainda não poluído), que passava bem atrás da Usina Elétrica (hoje a Feira Hélio Gueiros).
  Usava normalmente um paletó e calça arregaçada até o meio da canela, vestes que lhe ofertavam e normalmente andava descalço em sua área de trabalho, a zona comercial da cidade, em torno do Mercado Municipal.
  Lembro-me em tenra idade, que papai  instalou no arraial da Matriz um grande carrossel e lá estava o negro Lino a movimentá-lo com uma força incrível, na época nossa energia elétrica era precária.
  Na feira (que era dentro do Mercadão) após seu trabalho, costumava tomar uns "gorós", porém sempre quieto sem nunca dar alteração.Todavia virava uma fera, quando a garotada o apelhidava de "Barrão", chegava a correr atrás dos gaiatos.
   Também gostava de assistir comícios, não se sabe se entendia as mensagens dos "palanquistas" da época.
  Quando abrimos o Posto Camisinha na BR por volta de 1960, o velho Lino passou a nos ajudar transportando água do mesmo igarapé, que se chamava "do Tubo", todas as tardes. Sempre após a tarefa,dava umas bicadas oferecidas por alguns amantes da `branquinha" que também frequentavam nosso bar, porém todos conhecidos, que logo após iam se refrescar nas límpidas águas daquele córrego.
   Recordo-me também que lá em uma época de São João, Lino resolveu soltar uns rojões e estaria tudo bem se ele não tivesse invertido a posição do foguete, o que lhe valeu uns três dedos do pé perdidos, mas felizmente logo sarou.Era penoso vê-lo querendo contar o episódio, porém sua língua não ajudava.
   Agora o que mais admirava era a sua comprovada vocação humanitária. Quando ele sabia do falecimento de alguma pessoa,mesmo desconhecida, dizem que ele chegava a andar vários quilômetros para ir velar o corpo, com chuva ou sol e de lá só se levantava para acompanhar o sepultamento. Vi isto no falecimento de meu velho padrasto Camisinha e outros amigos que se foram.
   Soube de seu passamento dias depois,em função de ainda morar em Belém e confesso que tinha vontade de acompanhar seu enterro.
   Lino, apesar de tudo, um ser humano, talvez com um altruismo tão forte, que muitos de nós, às vezes, não demonstramos ter.
   Ele era acima de tudo, um grande izabelense.  

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