terça-feira, 8 de novembro de 2011

O VELHO "DRAGÂO" QUE ACABOU

O cemitério da EFB em Benevides
A primeira Estação Ferroviária (onde é hoje o Trajano)

       Com a intenção de povoar a região nordeste, da então Província do Grão Pará, ainda no Império, o governo resolveu fundar a EFB- Estrada de Ferro de Bragança, que começando em Belém, alcançaria aquela cidade interiorana,  num percurso de 210 km, cujos primeiros trilhos eram fixados em 1883. Esta ferrovia além de atender ao transporte de passageiros, serviria para o escoamento da produção agrícola da imensa região.
     Em 1884 , o caminho de ferro chegava ao Núcleo Colonial de Benevides em meio a grande festa e, no ano seguinte, atingia as terras do pequeno povoado de Sta. Izabel. Prosseguindo com a conclusão de trechos, a ferrovia chegava ao km 61, onde se localiza a Vila de Apeu, quando a companhia contava com apenas 3 locomotivas de nomes: Bragança, Siqueira Mendes e Barão de Marajó. Dois anos depois (1887), apesar da monarquia já caminhar para o seu final, eram adquiridas mais duas máquina denominadas de Princesa Izabel e João Alfredo.
    Anos depois a companhia começava dar sinais de declínio, cuja falência era iminente, sem lucro para saldar compromissos com os bancos. Porém o governador Joaquim da Costa Barradas, conseguiu soerguer os cofres da Província, dando novo alento à Estrada de Ferro, quando registrou-se inclusive a inauguração do Telégrafo Nacional. Na fase republicana, apesar das dificuldades vigentes, a estrada de ferro alcançava a localidade de Jambu-Açu e depois de um grande período de paralisação, chegava a Bragança, seu ponto final. Com sua conclusão, era visível o progresso da região, que fora coroada com a Proclamação da República , em 15 de Novembro de 1889
     Em 1920 novamente o fantasma da extinção rondava a Empresa, porém ela fora encampada pelo Governo da República, para dois anos depois ser arrendada pelo Estado -e em 1936 em meio à dificuldades, voltava à administração federal. 
     Continuando deficitária, por quase duas décadas, todos previam  a sua extinção, o que ocorreu  no período da Ditadura de 64 -apesar de muitos acreditarem ter sido mais um ato político, que propriamente ajuste  financeiro, pelo fato de que a maioria do sistema ferrovíario nacional, é deficitário e não foi criado para auferir grandes lucros. No período da desativação, a companhia contava com 30 máquinas a vapor e quatro movidas a óleo diesel, além de vagões de primeira classe que eram superconfortáveis.
    Ainda hoje dormita no Congresso Nacional, um projeto de um ex-deputado paraense (na época "revolucionário"), no sentido de ser reconstruída uma nova ferrovia, desta feita que ligue o Pará com o resto do Brasil, passando pelo Maranhão -o que com o andar da carruagem, é simplesmente utópico, principalmente agora, que os cofres estão à disposição de uma Copa do Mundo e o indigitado "defensor paraense"  já "pendurou as chuteiras".
    Nós que vivemos aquela época áurea de nossa infância, nos deslumbrávamos com a chegada do trem na estação, onde dezenas de pessoas desembarcavam ou seguiam viagem, os nossos pequenos vendedores a oferecer , pipocas,broas, beijo-de-moça, os apitos da locomotiva , mais parecendo um dragão fumegante que jamais seria vencido. As viagens que fazíamos com nossos pais à Capital, quando saíamos às 5h 30 e depois de duas horas a olhar pela janela, aquele infindo caminho verde, chegávamos à estação (hoje o Terminal Rodoviário), que era escuro e o teto tisnado pela "respiração" das marias-fumaça, depois mudado com as silenciosas e velocíssimas máquinas a diesel. 
     Tudo passou como um sonho de infância e somente acordamos quando vimos os trilhos, os "dragões fumegantes", os carros luxuosos de passageiros, todos amontoados em um verdadeiro cemitério, feitos entulhos inservíveis, cujo silêncio do lugar, deve ter provocado algumas lágrimas em muitos que ali estiveram após a catástrofe,  ficando apenas a amarga exclamação: -O nosso trem passou e aqui acabou!..

Nenhum comentário:

Postar um comentário